O Presidente da República, Cavaco Silva, entregou hoje o Grande Prémio do
Concurso Nacional de Inovação BES ao investigador João Mano, da
Universidade do Minho. É a primeira vez que esta academia recebe o
galardão. Em entrevista ao site da UMinho, João Mano destaca o potencial
da sua investigação em áreas tão díspares como a medicina regenerativa, a
agricultura e a cosmética.
Quais são as aplicações práticas que poderemos esperar a partir desta
investigação?
Se precisamos, por exemplo, de tomar algum medicamento o que se faz é um
doseamento, nomeadamente de oito em oito horas. O ideal era ter algo que
pudéssemos implantar no interior do corpo, por via oral ou injecção, e
depois o medicamento ir sendo libertando lentamente, sem necessidade de
múltiplas dosagens. Foi isso que conseguimos. Esta ideia pode ser
expandida para libertar outras substâncias, como pesticidas para a
agricultura, perfumes para a cosmética, suplementos alimentares...
Que impacto traz o prémio para a equipa da UMinho e que portas pode abrir?
A nossa equipa ficou muito satisfeita, foi enriquecedor ver o trabalho
reconhecido. O impacto em termos práticos e reais é a maior visibilidade.
A nossa tecnologia estava confinada a meios científicos e agora outros
públicos vão conhecê-la, sobretudo os empreendedores, empresários e
industriais, que dão muita credibilidade ao Grande Prémio BES Inovação,
cuja selecção envolveu quase todas as universidades portuguesas.
Porque é que o tema dos polímeros e a sua ligação à saúde é considerado
tão importante?
Os materiais poliméricos estão em todo o lado e têm inúmeras aplicações,
desde cartões de crédito, sacos, garrafas de plástico... A nossa equipa
interessa-se em usar plásticos especiais para aplicações médicas. Por
exemplo, os obtidos a partir de resíduos ou subprodutos da indústria
pesqueira e dos recursos marinhos. Podemos ir buscar materiais muito
interessantes – cascas dos caranguejos e dos camarões, algas, espinhas dos
peixes, corais, conchas – e dar-lhes um valor muito acrescentado em
produtos com interesse na área médica.
Em que outros projectos científicos de relevo está envolvido neste momento?
A minha actividade está canalizada às grandes linhas de investigação do
grupo 3B’s, como achar novas soluções terapêuticas para a regeneração de
órgãos e tecidos. Imaginemos um problema da articulação na anca.
Normalmente tira-se a parte danificada e coloca-se a prótese. Tentamos
encontrar soluções não para substituir mas para regenerar e utilizar os
próprios mecanismos biológicos (células, moléculas) dos pacientes.
Utilizamos também materiais que respondem a estímulos externos, como à
temperatura e acidez do meio, ou então abordagens biomiméticas. Por
exemplo, o projecto premiado baseia-se no uso de superfícies que repelem
tanto a água que se pusermos uma gota de líquido forma pequenas esferas na
superfície. Isso é biomimetismo, reproduzimos no laboratório o que já
existe na natureza, como a folha de lótus, as asas de alguns insectos e as
penas de alguns pássaros.
Fonte: uminho.pt