Está no top 5 mundial das tecnológicas líderes em plataformas de contratação. Com o lançamento da primeira "rede social para empresas", a Vortal quer galgar fronteiras.
A INTERNET ERA O REINO naquela altura. Estávamos em 2000 e "havia milhares de loucos com milhares de ideias loucas a pensar que iam ficar loucos de ricos". A fantasia desvaneceu-se, sobraram aqueles que "entregam valor". Porque para ganhar dinheiro é preciso responder às necessidades dos clientes. Rui Dias Ferreira soube como fazê-lo, quando ainda eram poucos aqueles que sabiam pronunciar anglicismos como e-commerce ou e-business: lançou um portal que reuniu empresas e fornecedores do sector da construção civil e que, através de um processo de compra virtual e estruturado, permitiu importantes poupanças nas transações comerciais, entre 5% e 15%. Neste modelo de negócio, o eprocurement, os mecanismos de pedidos de orçamentos, de estabelecimento de notas de encomenda e de faturação são geridos eletronicamente e centralizados numa plataforma virtual o que permite reduzir os prazos de encomenda e de entrega e simplifica o processo de compra.
À frente da área de engenharia e construção da ex-Andersen Consulting, atual Accenture, Rui Dias Ferreira, optou por sair e tornar-se no responsável pela congregação de esforços de duas dezenas de construtoras nacionais que, com um investimento inicial de 7,5 milhões de euros, lançaram a Vortal, empresa que disponibiliza diversas soluções de plataforma eletrónica para processos de contratação sem recurso ao papel. "Na construção civil, as poupanças nos custos são dramáticas, já que estas empresas compram mais de 70% da sua matéria-prima. Os resultados foram fabulosos e os fornecedores também aderiram porque os custos comerciais diminuíram, o que também lhes imprimiu uma dinâmica mais competitiva", explica o CEO.
NA BERLINDA INTERNACIONAL
Enquanto a bolha da internet colhia os negócios virtuais menos alavancados, a Vortal fazia o seu caminho. Em 2003, o portal eConstroi já começava a ser rentável e a transformar-se numa referência. Era o sinal de partida que bastava para a corrida a outros mercados, que, nos anos imediatamente seguintes, foram absorvendo as novas plataformas da Vortal, como é o caso do sector de compras públicas do Estado (através do VortalGov), da indústria da saúde, do mercado da energia e das Utilities, assim como da indústria e das empresas que trabalham na área do economato. Ao esforço de diversificação seguir-se-ia uma fase de evangelização das empresas, das entidades públicas e do próprio Estado. "A missão da Vortal e de qualquer empresa inovadora é exatamente essa: ter pessoas que tenham ideias e, depois, ser a primeira a vir para o mercado e tentar romper com o ceticismo." A persistência deu frutos e, em 2008, a solução VortalGov foi escolhida pela Agência Nacional de Compras Públicas (ANCP) para ser a plataforma eletrónica de contratação à administração central. "Isso culminou, no ano passado, com a passagem de 3,7 mil milhões de euros pelas nossas plataformas, o que equivale a quase 2,5% do PIB nacional", esclarece Rui Dias Ferreira.
Num relatório encomendado pela Comissão Europeia, a propósito do tema, Portugal surge referenciado como o país que mais sofisticação e usabilidade oferece no domínio dos e-services. A Vortal também tem direito a uma menção, sendo considerada a principal empresa prestadora de serviços na área. Outro estudo, desta vez com uma abrangência mundial, realizado pela consultora Gartner, coloca a empresa portuguesa entre as maiores do mundo (ao lado da BravoSolution, da Emptoris e da Tejari). Na berlinda, a Vortal tem angariado clientes de peso. Atualmente, tem mais de 2 mil clientes, como é o caso da Santa Casa da Misericórdia, a Direção-Geral de Saúde, a Administração Central do Sistema de Saúde, a Edifer, a ANA - Aeroportos de Portugal, o Ministério da Justiça ou cerca de metade das autarquias lusas. A construção continua a ser a principal fonte de receitas (55%) e a contratação pública já vale 25%.
GASTAR DINHEIRO PARA CRESCER
Em 2010, o volume de negócios da empresa ascendeu aos 10 milhões de euros e, para o final de 2011, espera-se que a faturação cresça na ordem dos 10%. Um valor que, reconhece o CEO, fica bastante aquém dos 40% de crescimento anuais que, desde o início, tinham marcado o percurso fulgurante da Vortal. A explicação, avança Rui Dias Ferreira, está "na grande quota de mercado que a empresa já tem no mercado português: é difícil crescer cá dentro. Além disso, a nossa operação internacional ainda está longe de chegar ao ponto que planeámos". O plano é ambicioso, a contar pelas palavras do CEO: "Em 2015, queremos ter mais de metade do negócio lá fora. A Vortal assume-se como uma empresa com base portuguesa, mas não feita apenas de portugueses. Aliás, na nossa comissão executiva de 12 elementos, quatro são estrangeiros", contabiliza o presidente que aponta, igualmente, para os nove colaboradores que trabalham no escritório espanhol, em Madrid (no total, a Vortal tem perto de 110 funcionários).
No país vizinho, que representa entre 5% e 10% do volume de negócios, Dias Ferreira já investiu perto de 1,5 milhões de euros. "O nosso principal ativo são as milhares de empresas portuguesas que querem vender lá para fora ou as várias entidades públicas que têm a necessidade de comprar ao estrangeiro, daí a importância do nosso papel na ligação aos mercados", explica o gestor. Em Espanha, a Vortal começou por comprar uma participação de 30% na Construdata 21, para melhor se adaptar ao mercado. Neste momento, "cerca de uma vintena" de entidades públicas espanholas (incluindo municípios, hospitais e universidades) contrataram os serviços da Vortal.
No final de 2010, foi a vez de chegar ao Reino Unido. "Temos de crescer rapidamente e, para isso, a nossa estratégia passa por aquisições. É o que também vamos lá fazer: comprar e ganhar concursos", atira o presidente executivo. Neste momento, o gestor aguarda o resultado do concurso ao Procurement Scotland, a entidade escocesa equivalente à ANCP e pela qual passam, anualmente, 9 mil milhões de libras. Também na República Checa, a Vortal acaba de se fazer proprietária de uma companhia local e está a concorrer a novas concessões. "Em três anos, queremos estar num número muito grande de geografias na Europa. Mas olhamos com interesse para os Estados Unidos, Palop e Brasil", esclarece o CEO.
REDE SOCIAL PROFISSIONAL
A Vortal vai lançar, no próximo mês de outubro, uma inovação que, além de 3 milhões de euros de investimento, custou 90 mil horas de conceção, desenvolvimento e teste, e ainda o envolvimento de 45 colaboradores durante dois anos.
A nova plataforma, batizada VortalNext, consegue servir 1 milhão de utilizadores - atualmente, são cerca de 40 mil, mas, com o processo de expansão, espera-se que em cinco anos consiga cumprir com o objetivo - e, para além da maior escalabilidade, irá disponibilizar mais funções (como a gestão de contratos e de encomendas eletrónicas ou mesmo a realização de leilões virtuais) e a navegação será mais simples (até agora, estas ferramentas exigiam formação). Contudo, "a verdadeira revolução", segundo Rui Dias Ferreira, está no conceito do próprio serviço: "Até agora, funcionávamos como uma rede de empresas, facilitávamos as trocas entre elas. Mas passámos a ser uma rede social de empresas, que vai permitir que as companhias interajam entre si, não apenas para vender e comprar, mas toda e qualquer necessidade de diálogo profissional. E essa dinâmica vai resultar num modelo de reputação, feita através de notações que resultam da interação na plataforma. Desta forma, as empresas vão poder fazer exatamente aquilo que nós procuramos no Facebook ou no Linkedln: a diferenciação", conclui o responsável.
Fonte:http://www.uminho.pt