Os portugueses já deram a conhecer novos mundos ao mundo. Hoje, no início do século XXI, o país dá cartas em diversas áreas da investigação, monstrando que em território nacional existe talento.
Novas ideias, tecnologias e projetos fazem o mundo avançar. Contrariamente ao que se possa pensar, Portugal dá cartas e assume cada vez mais um papel importante a nível nacional e internacional em diversos domínios da investigação científica. Do estudo do cancro até à eletrónica transparente, o país prova que tem talento para dar, vender, é capaz de atrair cérebros estrangeiros e pode ser competitivo em diversas áreas da ciência.
Neurociências e cancro são as duas principais áreas de investigação do Centro de Investigação da Fundação Champalimaud. Lançado em 2008, o programa de neurociências tem por objetivo investigar as bases neurais do comportamento. Reúne 180 investigadores, cerca de metade são estrangeiros, congregando experiências, saberes e culturas diferentes. Na área do cancro, o centro optou pela investigação translacional, ou seja, estabelece uma ligação permanente entre a investigação básica e clínica, entre a doença e a investigação da doença. Para o efeito foi criada uma área clínica de tratamento de cancro.
Neste momento estão envolvidos em todos os projetos da Fundação, entre médicos e cientistas, 300 pessoas, sendo que no centro estão cerca de 200 e os restantes desenvolvem o seu trabalho no âmbito dos programas Champalimaud em curso noutras instituições e países, revela fonte da Fundação Champalimaud. Estão em curso parcerias com instituições de vários países em áreas como a visão e o cancro. Nesta última, o centro criou em 2009 três programas de investigação em metástases com as universidades de Princeton, Cornell e Harvard, o que permite a troca de experiências, conhecimentos e know how.
A excelência deste centro, as condições materiais e humanas que contém e a oportunidade de fazer parte de um projeto novo, único e que congrega cientistas de diferentes nacionalidades, culturas e experiências tem atraído talento nacional e estrangeiro a este espaço. Para a Fundação é inegável que a investigação científica de ponta é uma oportunidade que o país tem, dado que possui cientistas de grande qualidade, para se afirmar internacionalmente. Hoje há cientistas portugueses a publicar nas revistas científicas mais prestigiadas e há portugueses integrados nas mais importantes redes científicas globais. A ambição da Fundação Champalimaud é desenvolver ciência de altíssima qualidade que coloque o centro e, portanto o pais, num patamar de excelência no quadro dos grandes centros de investigação mundiais.
Elvira Fortunato, cientista portuguesa do Centro de Investigação de Materiais (CENIMAT/I3N) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa ficou conhecida do grande público quando, em 2008, recebeu o primeiro prémio de 2,25 milhões de euros do European Research Council (ERC) e o seu nome passou a constar no Top mundial dos investigadores em eletrónica transparente. O grupo de investigação do CENIMAT/I3N de materiais da eletrónica e optoeletrónica onde se insere tem desenvolvido atividades de I&D nas áreas de eletrónica transparente, de eletrónica de papel, nanotecnologias, nanodispositivos, tecnologia de filmes finos, processos de micro e optoeletrónica e conversão de energia. Com várias patentes registadas, Elvira Fortunato conta que estas estão a ter aplicação, nomeadamente a da área da eletrónica transparente, na nova tecnologia dos mostradores planos, estando as novas matizes ativas a serem produzidas em larga escala pela na Coreia, com quem possuímos uma patente conjunta e a Sharp no Japão.
Quanto à patente da eletrónica de papel ainda não está a ser aplicada, mas tem potencialidades na área das embalagens, documentos de identificação e de segurança, entre outros. Estão também envolvidos num projeto com uma grande papeleira, com o intuito de desenvolver dispositivos eletrónicos em papéis otimizados para eletrónica.
Na equipa de Elvira Fortunato cerca de metade dos 45 investigadores que a compõem são estrangeiros. A grande atração prendese com a qualidade e excelência inerente ao que fazemos. Para além de ser uma investigação de ponta que tem nos dias de hoje grande visibilidade, somos uma referência mundial em particular na área da eletrónica transparente e de papel, salienta a cientista. A popularidade do seu trabalho ficou a deverse em grande parte ao prémio que o ERC lhe atribuiu. Conta Elvira Fortunato que o nosso trabalho inicialmente teve até um impacto científico maior fora de Portugal e isso é muito bom nos dias que correm, pois mostra que conseguimos competir com os melhores, não só na Europa como no mundo e isso coloca Portugal no topo nesta área.
E falando da Europa, a Critical Materials, fundada por Gustavo Dias e Júlio Viana, professores e antigos alunos da Universidade do Minho (UM), é a única empresa portuguesa que participa no projeto Saristu Smart Intelligent Airframe Structures, liderado pela Airbus. O objetivo é desenvolver soluções inovadoras e multifuncionais de materiais avançados que permitam a redução do peso e custos operacionais das próximas gerações de aeronaves, mantendo e até melhorando o seu desempenho aerodinâmico. A ligação à UM foi determinante na forma como a Critical Materials nasceu, em particular porque resulta da atividade de investigação em materiais inteligentes e suas aplicações. Também foi possível ao longo da atividade académica interagir com um número significativo de empresas de vários sectores de atividade o que permitiu validar e criar a credibilidade necessária para o arranque, comenta Gustavo Dias.
A empresa mantém alguns projetos em parceria com a UM e grande parte dos seus colaboradores é graduada desta instituição. Na perspetiva de Gustavo Dias as universidades são um repositório de boas ideias e de desenvolvimentos tecnológicos.
Acredita que Portugal é um país de empreendedores e tal como a Critical Materials, projetos tecnológicos podem contribuir para uma boa imagem internacional do país neste contexto.
Também oriunda da universidade, mas desta vez de Aveiro (UA), chega o projeto Smart. Tem como objetivo o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para monitorização remota e em tempo real de estruturas através de sensores de fibra ótica. Resulta de uma parceria entre o Instituto de Telecomunicações, a UA e a empresa Justbit. A primeira fase do projecto já foi atingida com a instalação do sistema no viaduto da A17. Já estamos a receber dados de forma contínua desde junho deste ano, conta Rogério Nogueira, responsável pelo Smart. Os resultados deste projeto refletem-se em novos produtos que podem ser utilizados para melhorar os processos de monitorização estrutural. Permite que pontes e viadutos, a rede rodoviária ou património histórico possam ser monitorizados, reduzindo os custos e aumentando a eficácia da fiscalização.
Para Rogério Nogueira a transferência de tecnologia das universidades para a sociedade, nomeadamente através das empresas, é fundamental para o crescimento económico do país. Crescimento esse que em tempos de crise é fundamental.
Fonte: www.uminho.pt