Oficina CEER
 07-11-2011
AS NOVAS TECNOLOGIAS PODEM AFECTAR A MEMÓRIA?

Um estudo da Universidade de Columbia revela que o uso de motores de busca da internet alterou a nossa capacidade de memorização. Com a utilização cada vez mais frequente dos computadores, estará a memória humana em risco?

Com o advento da internet, a informação passou a estar acessível à distância de um mero clique. Mas a capacidade de armazenamento dos dados deixou de estar tão dependente do cérebro humano, denuncia um estudo americano. Betsy Sparrow, que investigou a influência do motor de busca Google na memória humana, concluiu que a internet se tornou «um mecanismo de armazenamento externo de informação».

A neurologista Belina Nunes, autora do livro Memória: Funcionamento, Perturbações e Treino (ed. Lidel), defende que «a memória humana tem limites». Por essa razão, «há necessidade de recorrer a sistemas externos de armazenamento de informação, através de suportes físicos ou da memória do grupo», que é perpetuada pela tradição oral. A especialista sugere que «a internet trouxe um suporte de registo com acesso imediato e quase ilimitado à mais diversa informação». Porém, resultados deste estudo dão conta de que «os participantes memorizavam mais facilmente o processo de como aceder posteriormente à informação do que a própria informação que lhes era fornecida para memorizar».

O estudo observa que, devido à facilidade com que as respostas podem ser encontradas na internet, o esforço de memorização dos dados está a tornarse inferior. Mas, para já, é prematuro garantir que este processo venha a ter repercussões dentro de alguns anos. «Ainda é precoce conjecturar, pois as ajudas externas de memória são sempre enriquecedoras para a memória colectiva, no sentido em que minimizam as fragilidades da memória individual», fundamenta. «No entanto, a extrema dependência actual das ajudas externas, levando em alguns casos a que a pessoa deixe, progressivamente, de exercitar a sua própria memória, poderá ser prejudicial ao processo de aprendizagem, que consiste na atenção sustentada, codificação e repetição da informação. Esse recurso excessivo a ajudas externas da memória poderá tornar esse processo mais preguiçoso.

Dê descanso a memória.
Conforme explica Belina Nunes, há uma série de factores que «agravam o funcionamento da memória». A especialista indica que «o stress crónico, a privação de sono ou doenças que alteram a estrutura do sono - como a apneia de sono» e a execução de «uma multiplicidade de tarefas em simultâneo» podem alterar o processo de memorização. A neurologista garante, por isso, que, a favor de uma memória mais saudável, se «torna fundamental repensar as estratégias de vida pessoal e profissional». «São necessários períodos de relaxamento e de reflexão ao longo do dia, para que o cérebro possa fazer pausas no processo de consolidação e armazenamento [da informação]. Mesmo o mais rápido dos computadores precisa de tempo suficiente para sequencialmente processar a informação que introduzimos», nota. «Como podemos não falhar se ultrapassarmos os limites de velocidade de processamento do nosso cérebro?», questiona a ca. «Uma vida equilibrada, horas de sono suficientes, uma alimentação adequada, realização regular de um plano de exercício físico e evitar a constante exposição a stress são seguramente os aliados de uma memória robusta», confirma.

Lembre-se de que... «A memória humana é uma função cerebral complexa, sustentada por uma extensa rede de células neuronais e de ligações sinápticas, em articulação estreita com outras áreas cognitivas (atenção, raciocínio, percepção)», esclarece Belina Nunes. A neurologista indica ainda que o processo de memorização se desenrola ao longo de quatro etapas: «Inicia-se pela fase de recepção, a qual corresponde à entrada da informação no sistema, sendo seguidamente catalogada (codificação) e armazenada (consolidação), para, mais tarde, ser recuperada quando necessário (evocação).

Belina Nunes indica que «a memória, tal como as restantes capacidades cognitivas, deve ser treinada e estimulada em todas as idades». No entanto, se sente que está a perder capacidade de memorização, poderá recorrer à Escala de Queixas Subjectivas de Memória, um questionário com dez itens, em que poderá detectar eventuais problemas. Na dúvida, também será prudente consultar o médico assistente que fará uma avaliação mais minuciosa das queixas.

Fonte: http://umonline.uminho.pt