Oficina CEER
 03-04-2012
NAÇÕES PERSONIFICADAS PELO CORPO FEMININO

Um estudo realizado pela linguista Joana Ribeiro, doutoranda em Estudos Culturais na UMinho, com acompanhamento e supervisão da docente Gillian Moreira, tenta explicar a identidade de uma pátria a partir da representatividade da imagem da mulher. Caracterizando a prática de usar o corpo feminino como representação visual das nações, a investigação faz alusão à transversalidade no tempo através de estereótipos sociais e culturais.

A figuração é uma das formas mais antigas e importantes de expressão e o recurso à imagem da mulher como personificação de uma nação tem sido uma prática generalizada por toda a Europa. As artes visuais contêm muitos exemplos em que o corpo feminino é visto como um espaço psicológico e material, como uma interseção dinâmica entre "mente" e "corpo". Veja-se a Mãe Pátria (Rússia), a Mãe Albania (Albânia), a Britannia (Inglaterra), a Senhora da Montanha (Islândia), a Menina da Finlândia (Finlândia), a Marianne (França), a Germania (Alemanha), a República (Portugal).

Face às mudanças de significado e de definições de identidades nacionais e de género, a personificação feminina da nação desempenha o papel fundamental de representar a continuidade da identidade e dos valores. Para Joana Ribeiro, “as personificações nacionais só podem ser corretamente interpretadas de acordo com o contexto político e cultural da época em que foram criadas e/ou adaptadas"; além disso, têm um lado atemporal. Tanto a nível individual como coletivo, essas incorporações "são uma prática discursiva" ligada à construção de identidades. Nestas personificações em que o corpo do Estado e o corpo da mulher são fundidos num só, sendo entendidos como um modo de significação e uma estratégia discursiva que faz uso da linguagem. O estudo de Joana Ribeiro pretende “descrever a figura feminina como transcendendo as suas representações visuais e contribuindo para a estereotipia de características tradicionalmente associadas à mulher”.

Poder cultural das personificações é cada vez mais relevante.

No que diz respeito às conclusões relevantes, a autora refere que “estas representações idealizadas da mulher demonstram que, em diversos contextos nacionais, há o ponto comum de construir e manter a relação entre as ideologias de nação e de género, com o objetivo de ajudar a definir e consolidar as noções de identidade nacional”. Embora variadas, estas personificações revelam um tema recorrente: as mulheres são retratadas como personagens femininas que, aparentemente, violam os papéis tradicionais de género, envergando vestes clássicas.

Por outro lado, sublinha, “é importante compreender que as representações transcendem tempo e espaço”, pois os exemplos dados são interessantes, exatamente porque, explica, “os discursos de identidade e de género veiculados nessas personificações refletem, na realidade, os diferentes papéis estereotipicamente esperados e associados às mulheres em geral, quer como figuras de formas voluptuosas ou como símbolos de pureza e virgindade, como modelos para o comportamento feminino, como protetoras ou mesmo no seu papel especializado de figuras maternas”.

Joana Ribeiro acredita que as crenças sobre as expectativas de género têm mudado ao longo do tempo e variam hoje em diferentes culturas. No entanto, segundo crê, continua a tratar-se de uma evolução lenta: “Uma vez formadas, as representações tendem a ser excecionalmente duráveis”. Assim, o estudo das representações do corpo feminino na simbologia nacional e o poder cultural dessas personificações, que ainda hoje influenciam as ideologias, parece ser mais relevante do que nunca.

Na sua opinião, “não é apenas uma maneira de revelar a ideologia de períodos históricos específicos, mas também um modo de compreender o legado ideológico que herdamos”. Entende que as crenças e valores que foram transmitidos ao longo do tempo através destas representações têm, definitivamente, um grande impacto sobre os indivíduos de todas as idades e em todo o mundo: "Por exemplo, os estereótipos de género que, ainda hoje, estão presentes em crenças populares ou em representações nos media”.

Ler máis en:
http://www.uminho.pt/Newsletters/HTMLExt/32/website/conteudo_603.html