Marisa Silva, estudante de doutoramento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e investigadora da equipa de trabalho de Vitor Vasconcelos, docente do Departamento de Biologia da FCUP e investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR ), assina um artigo na última edição da revista Marina Drugs, onde alerta para a ocorrência de níveis mensuráveis da neurotoxina tetrotodotoxina em gastrópodes marinhos (classe de moluscos, geralmente protegidos por uma concha) recolhidos em zonas costeiras do Norte e Sul de Portugal.
Típica de águas quentes, a Tetrodotoxina (TTX) é uma neurotoxina marinha extremamente potente e para a qual não existe atualmente antídoto. É ainda responsável por um elevado número de fatalidades em humanos, sendi que a maioria dos casos de intoxicação ocorre por ingestão de espécimes portadores de TTX. A concentração letal para o homem é aproximadamente de 2 mg, causando morte por paragem cardio-respiratória, sendo o seu mecanismo de ação por oclusão dos canais de sódio dependentes de voltagem (Nav). Deste modo inibe a comunicação entre células eletricamente excitáveis , provocando a paralisia dos músculos.
Segundo Marisa Silva, desde Julho de 2009 que o grupo de investigação tem vindo a coletar mensalmente organismos bentónicos ao longo de toda a costa Portuguesa, nomeadamente nas praias de Vila Nova de Milfontes, Angeiras e da Memória. Estes organismos, que habitam regiões intertidais, são geralmente pouco estudados como potenciais vetores de toxinas, com a exceção dos bivalves. Neste trabalho foram rastreados diferentes tipos de organismos bentónicos pertencentes aos gastrópodes (caracóis, lapas e lesmas marinhas), bivalves e equinodermes (estrelas-do-mar e ouriços-do-mar). O estudo é especialmente pertinente uma vez que fazem parte da base da cadeia alimentar que finda no homem, mas também são ótimos indicadores das mudanças no ecossistema. Já foi descrita a presença da TTX nestes grupos em diferentes partes do globo.
A investigadora desaconselha o consumo de qualquer tipo de gastrópode apanhado nas praias. Acrescenta, contudo, que "produtos depurados de qualquer toxina", após algum tempo retidos em aquários, como é geralmente o caso dos mexilhões e outros moluscos sob controlo das autoridades, não representam qualquer perigo.
A descoberta agora publicada surge no seguimento do trabalho desenvolvido pela equipa de investigação liderada por Vítor Vasconcelos aó nível da deteção de toxinas marinha emergentes. No início do ano, o grupo já tinha dado conta da ocorrência nas águas portuguesas de uma quantidade significativa de neurotoxinas BMAA, uma substância associada a doenças neurodegenerativas como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ALS).
Fonte: noticias.up.pt