Contributo da observação sociológica para o estudo da fala bracarense.
O Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho está a coordenar um projeto financiado pela FCT que visa constituir a primeira base sociolinguisticamente controlada de dados de fala em Portugal. A partir de uma amostra da fala bracarense, o estudo pretende fornecer indicadores sociológicos na análise dos fenómenos linguísticos.
Traçar um perfil estratificado do discurso oral da cidade de Braga é o ponto de partida do estudo pioneiro, que pretende proporcionar instrumentos de análise da variação na língua portuguesa. Pilar Barbosa, professora do Instituto de Letras e Ciências Humanas da UMinho e coordenadora do projeto, adianta que “este estudo pioneiro proporcionará um grande manancial de dados que estarão disponíveis para todos os investigadores e linguistas”. A partir de uma amostra estratificada de 90 indivíduos, a recolha visa, por um lado, a constituição de uma base de dados representativa da língua portuguesa contemporânea, a partir de três variáveis de análise sociolinguística: o género, a idade e a escolaridade; por outro lado, a descrição e discussão dessa base de dados segundo os diversos níveis de análise linguística: fonológico, morfológico, sintático, lexical, semântico, pragmático, discursivo e conversacional.
O principal fator distintivo do projeto em relação à investigação já realizada em Portugal está na verticalidade do estudo. Segundo a investigadora, “o que tem havido até agora resulta de recolhas e análises por comparação regional, num estudo horizontal, de índole dialetológica, dos diversos ‘falares regionais’ de Portugal”. Com este estudo, porém, pretende-se “avaliar a variação linguística na vertical, em função da idade, do género e da escolaridade, mantendo a área regional constante”.
Este tipo de análise permitirá fazer avaliações da correlação existente entre fatores linguísticos e fatores sociais, a partir da fala, “sobretudo processos de mudança linguística, para saber o que está realmente a mudar na fala dos indivíduos e qual a tendência geral da mudança”, desde a sintaxe à pronúncia e a outros fenómenos linguísticos. Pilar Barbosa conclui que a pesquisa sociolinguística pode fornecer pistas acerca da forma como as diferentes variáveis sociais têm um efeito negativo ou positivo sobre a emergência de usos linguísticos alternativos. Por exemplo, “há certos usos linguísticos estigmatizados pela norma que são evitados pelos falantes quando estão em idade ativa e que são retomados quando estão na idade da reforma”, assim como há diferenças entre os géneros e entre os grupos sociais no sentido do avanço ou recuo da inovação. Isso só pode ser investigado com uma amostra devidamente controlada e estratificada do português falado numa dada região.
Com conclusão em 2014, o projeto que envolve especialistas nos diversos níveis de análise linguística, tanto da Universidade do Minho como da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade de Lisboa, lançará em Portugal uma área de estudo iniciada nos EUA e que tem em diversos países bases de dados muito desenvolvidas.
Fonte: Uminho.pt