Oficina CEER
 16-06-2014
AUTOCONTROLO DA AGRESSIVIDADE É ESSENCIAL PARA OS ATLETAS

Estudo de Rui Sofia, da Escola da Psicologia da UMinho, envolveu 269 atletas de 10 modalidades.

A agressão moderada em pleno jogo é muitas vezes incentivada pelos treinadores e encarada por alguns jogadores como sendo algo “benéfico”, revela uma tese de doutoramento da Escola de Psicologia da UMinho, que envolveu 269 atletas, alguns deles detentores de títulos nacionais, europeus e mundiais. Apesar de nenhum estudo comprovar diretamente os benefícios do comportamento agressivo na performance dos desportistas, este é frequentemente usado para destabilizar, provocar e intimidar os adversários, sublinha o autor Rui Sofia.

A sua tese em Psicologia do Desporto, intitulada “Raiva, agressão, coping e regulação emocional no desporto”, é a primeira a nível nacional a focar a raiva enquanto emoção. Visou compreender que variáveis e processos estavam implicados na regulação da raiva e do comportamento agressivo. Os atletas avaliados eram de modalidades como natação, futsal, ténis, voleibol e andebol, passando pelo rugby, hóquei, kickboxing, boxe e luta greco-romana.

Num dos cinco estudos realizados no doutoramento, Rui Sofia atentou nas crenças dos atletas acerca da raiva. “A visão dualista é predominante. Acreditam que é benéfica porque aumenta a motivação e energia durante o jogo, mas, por outro lado, reconhecem que esta pode afetar negativamente a concentração”, afirma o bracarense de 30 anos. Ainda assim, o comportamento agressivo é visto pela maioria como “tática de jogo” utilizada para “conseguir determinado objetivo”. “Alguns atletas admitiram até que os treinadores os ensinavam a atuar de forma agressiva e sem serem desmascarados pelo árbitro, com o objetivo de obter benefícios durante o jogo sem sofrer penalidades”, destaca.

“Seleção nacional de futebol ainda pode trabalhar alguns aspetos psicológicos”

Rui Sofia apela para a necessidade de ajudar os atletas a controlar a raiva e, assim, encontrar maior equilíbrio emocional. O investigador destaca três estratégias de regulação: a ruminação da raiva (tendência para focar sistematicamente esta emoção), a reavaliação da importância (ou “repensar” a situação) e o autocontrolo. Enquanto a ruminação tende a aumentar a raiva e levar a comportamentos agressivos, as restantes costumam apaziguar as tensões. Os resultados revelam, ainda, que os desportistas com níveis superiores de raiva apresentam mais comportamentos agressivos e antissociais no jogo, além de terem menor capacidade de autocontrolo e de reavaliação da importância. Com este estudo, pretende-se abrir portas para o desenvolvimento de programas destinados a diminuir os comportamentos agressivos e violentos nos atletas.

“Os psicólogos devem ajudar os atletas a adquirir estratégias e competências psicológicas para lidar com os fatores de stress e alta pressão competitiva. A própria cobertura dos media é uma fonte de ansiedade e ameaça”, enfatiza Rui Sofia. “A maioria dos desportistas tende a ter condições de treino semelhantes. As variáveis psicológicas acabam por fazer toda a diferença e os treinadores já perceberam isso. Até já utilizam nos seus discursos termos como ‘ansiedade’ e ‘controlo emocional’”, acrescenta. Quando questionado sobre a seleção nacional de futebol, que se estreia esta segunda-feira no Mundial do Brasil, Rui Sofia refere que ainda “podem ser trabalhados alguns aspetos psicológicos ligados à preparação mental para os jogos”: “Apostar em estratégias de regulação emocional e formas de lidar com o stress é fundamental”.

- Reportagem interna completa em www.nos.uminho.pt/Article.aspx?id=96